Adicione pesticidas à lista de contaminantes que são predominantes na água potável dos EUA e podem causar graves impactos à saúde, incluindo câncer e doença de Parkinson.
Infelizmente, existe uma infinidade de agentes tóxicos que podem levar à contaminação da água potável, desde metais pesados, como chumbo e arsênico, até produtos químicos, como substâncias per e polifluoroalquil (PFAS), que recentemente ganharam muita atenção. No entanto, os pesticidas são contaminantes que poucas pessoas imaginam à espreita em sua água potável. O termo “pesticidas”, abrange todas as substâncias que têm como finalidade o controle de pragas, podendo ser herbicidas, inseticidas, raticidas, fungicidas e muitos outros. Os pesticidas têm um papel crucial na produção de alimentos, pois protegem os rendimentos e aumentam o número de vezes que uma cultura pode ser cultivada na mesma terra.
Imagem: Water Online
Cerca de 407.779, 20 toneladas de pesticidas são utilizadas nos Estados Unidos a cada ano. Os Estados Unidos ocupam o segundo lugar depois da China1 quando se trata de países que empregam as maiores quantidades de pesticidas. Atualmente, são usados em 900.000 fazendas e em 70 milhões de lares nos EUA 2. Enquanto 75% dos pesticidas estão envolvidos na agricultura, 85% dos lares americanos têm pelo menos um pesticida armazenado e 63% das famílias têm de um a cinco pesticidas em casa. O uso no país aumentou porque, não apenas a população sempre crescente deve ser suprida com alimentos, mas também as culturas precisam ser cultivadas para exportação.
Embora os pesticidas sejam muito eficazes para manter as ervas daninhas, insetos e roedores afastados, eles são extremamente prejudiciais à nossa saúde. A exposição direta ou indireta, pode levar a doenças terríveis e debilitantes ao longo dos anos.
A exposição indireta a pesticidas ocorre bebendo ou cozinhando com água contaminada. Por exemplo, o glifosato um herbicida perigoso e altamente tóxico popular nos EUA, é muito solúvel em água, a 1,01 gramas por 100 mililitros. Portanto, a fervura por si só não pode remover o glifosato da água potável. Os pesticidas aplicados em terras agrícolas, gramados e jardins podem facilmente chegar às águas subterrâneas, bem como aos sistemas de água de superfície que alimentam o abastecimento de água potável. Os pesticidas são encontrados em até 41% dos poços de abastecimento3, que fornecem água potável às famílias.
Como os pesticidas acabam na água potável?
Antes de chegar aos sistemas de abastecimento de água, os pesticidas primeiro contaminam as águas subterrâneas, pois o solo que eles permeiam facilita esse processo. A contaminação das águas subterrâneas por pesticidas é um assunto muito sério, uma vez que essas águas são consumidas por cerca de 50% da população dos Estados Unidos4. Esta é uma grande preocupação para as pessoas que vivem nas áreas agrícolas, onde os pesticidas são mais usados. Na verdade, 95% desta população depende exclusivamente das águas subterrâneas para consumir água potável 5.
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Os pesticidas entram no sistema hidrológico a partir de fontes pontuais e não pontuais, como a maioria dos contaminantes da água. Os primeiros são pontos de liberação específicos, como fábricas de pesticidas, enquanto os segundos são difusas e amplamente dispersos. As fontes difusas são as dominantes para os pesticidas encontrados em córregos e águas subterrâneas. Estes incluem escoamento para córregos de terras agrícolas e urbanas, deposição de pesticidas da atmosfera e infiltração para águas subterrâneas em áreas onde os pesticidas são usados.
Existem muitos fatores que afetam a contaminação das águas subterrâneas com pesticidas, como o próprio pesticida. Isso se refere aos ingredientes ativos, os aditivos misturados com os ingredientes ativos e quanto tempo leva para o pesticida se decompor. Outros fatores incluem a mobilidade do pesticida no solo, se o mesmo é solúvel em água, atividade microbiana, temperatura do solo e manejo da irrigação. A irrigação aumenta a chance de o pesticida migrar para as águas subterrâneas e superficiais. Irrigar a uma velocidade superior à taxa de infiltração do solo resultará em escoamento que carrega junto o pesticida.
Consequentemente, como os pesticidas podem chegar facilmente às águas subterrâneas, que são a principal fonte de água potável para muitas pessoas, os sistemas de água superficiais que alimentam o abastecimento de água potável provavelmente contêm pesticidas. Nos Estados Unidos, aproximadamente 15% da população (cerca de 43 milhões de pessoas)6 depende da água de seus poços particulares, mas estes não são regulamentados pela Safe Drinking Water Act (SDWA).
Quais são as consequências para a saúde?
Os efeitos da exposição a pesticidas na saúde dependem de qual substância um indivíduo tem ingerido. Dois dos pesticidas mais comuns na água potável são a atrazina e a simazina. Ambos são regulamentados e têm limites máximos, 3 ppb para atrazina e 2 ppb para simazina. No entanto, existem muitos outros pesticidas presentes na água potável que não são regulamentados. Este é um sério motivo de preocupação. Existem milhares de produtos químicos sendo levados para as vias navegáveis dos EUA. Isso inclui muitos pesticidas, dos quais apenas 100 são monitorados e regulamentados pela EPA (U.S. Environmental Protection Agency) dos EUA.7
Normalmente, leva vários anos de exposição leve a grave a pesticidas para que um indivíduo manifeste a doença. O nível de contaminação que representa um risco para a saúde humana depende, em última análise, da toxicidade dos pesticidas, da quantidade presente na água e da extensão da exposição que ocorre diariamente ao usar água potável contaminada.
Entre as condições insalubres e doenças, a contaminação por pesticidas causa neurotoxicidade, câncer e doença de Parkinson. O pesticida conhecido por causar esta última doença é o Paraquat, um dos mais prevalecentes nos Estados Unidos. Os agricultores no país usam cerca de 3.630.000 quilos de Paraquat anualmente em culturas como amendoim, trigo, frutas cítricas, soja, milho, amêndoas, alho, peras, uvas e morangos. O Paraquat é solúvel em água e tem maior probabilidade de contaminar a água potável, quando usado em conjunto com atrazina ou simazina. Ainda assim, por si só também pode acabar na água potável.
A exposição ao Paraquat causa a doença de Parkinson,8 ao danificar a região do cérebro que libera dopamina, medicamente conhecida como substância negra. A dopamina, é um dos neurotransmissores do nosso corpo responsáveis por enviar mensagens para a área do cérebro que controla o movimento e a coordenação, entre outros. Em pessoas com a doença de Parkinson, o movimento e a coordenação são severamente afetados, sendo esses sintomas características do distúrbio. Infelizmente, a doença de Parkinson é irreversível, não tem cura e os sintomas geralmente pioram com o passar dos anos.
Como esse problema pode ser minimizado?
A EPA possui regulamentos de água potável para cerca de 100 contaminantes, incluindo pesticidas, e o SDWA inclui um processo que a EPA deve seguir para identificar e regular novos contaminantes. No que diz respeito aos pesticidas e outros contaminantes da água potável, a responsabilidade da EPA é estabelecer limites legais para estes, pois a ocorrência de contaminantes na água potável não podem ser totalmente evitadas.
Embora a EPA monitore e regule dezenas de contaminantes da água potável, muitos pesticidas não são regulamentados. Enquanto as concessionárias de água tratam a água potável com cloro para matar bactérias e vírus, essa substância remove apenas 60% dos pesticidas presentes na água.
A combinação da oxidação pelo cloro com um processo de coagulação-floculação-decantação é mais eficaz para eliminar os pesticidas da água potável. Os indivíduos podem tornar a água em sua casa mais segura para beber e cozinhar usando filtros de carvão e tratamentos de osmose reversa (RO). Os filtros de água são uma boa opção para remover os pesticidas, pelo menos parcialmente. Eles são fáceis de usar e relativamente baratos. O tratamento por osmose reversa que envolve filtros de carvão ativado supostamente remove entre 97% e 99% de todos os pesticidas, inseticidas e herbicidas da água potável.
Referências:
- https://www.worldometers.info/food-agriculture/pesticides-by-country/
- https://people.forestry.oregonstate.edu/steve-strauss/sites/people.forestry.oregonstate.edu.steve-strauss/files/PestUse1996.pdf
- https://beyondpesticides.org/dailynewsblog/2021/01/millions-of-peopledrinking-groundwater-with-pesticides-or-pesticide-degradates/
- https://www.usgs.gov/news/featured-story/quality-nations-groundwaterprogress-national-survey
- https://www.usgs.gov/special-topics/water-science-school/science/pesticidesgroundwater
- https://www.usgs.gov/mission-areas/water-resources/science/domestic-privatesupply-wells
- https://www.washingtonpost.com/national/health-science/in-us-drinkingwater-many-chemicals-are-regulated–but-many-arent/2016/06/09/e48683bc-21b9-11e6-aa84-42391ba52c91_story.html
- https://www.atraxialaw.com/news/does-paraquat-exposure-cause-parkinsonsdisease/
Autor: Miguel Leiva
Fonte: Water Online
Adaptado por Digital Water
